Doenças articulares : Inflamação, desgaste e dor
SAÚDE REUMATOLOGIA
Doenças articulares : Inflamação, desgaste e dor
Em 90% dos casos, as doenças reumáticas articulares manifestam-se por dor: na maioria dos casos, a dor é crónica (isto é, tem uma duração superior a 6 semanas) e, com o passar do tempo, a dor vai interferir com as atividades quotidianas, quer as relacionadas com o trabalho quer as com o lazer, bem como a qualidade do sono e de vida em geral.
As doenças reumáticas estão divididas em diferentes grupos. Um dos critérios mais usados é o que as divide conforme a sua evolução, em inflamatórias – cujo nome termina em "ite", como a artrite – e de desgaste – a acabar em "ose", como a osteoartrose.
As doenças devidas ao desgaste articular e as afeções das estruturas que envolvem as articulações são as mais frequentes. Quase todas as pessoas já sofreram de dores articulares e é normal desenvolver, com a idade, artroses mais ou menos pronunciadas. Fatores externos, como um resfriado, o esforço não equilibrado ou má postura no trabalho podem ser fatores desencadeantes da doença, mas não são causa exclusiva. O que acontece, geralmente, é a acumulação, ao longo da vida, de vários fatores que contribuem para o aparecimento e desenvolvimento da doença.
As doenças reumáticas inflamatórias são mais raras. Como causas possíveis para estas doenças, muito diferentes entre si, estão os distúrbios imunológicos, inflamações, más formações anatómicas, entre outras.
OSTEOARTROSE A MAIS FREQUENTE
A mais comum das doenças reumáticas afeta, sobretudo, as mulheres. Dores e rigidez articular são os principais sintomas da osteoartrose, doença que, embora não tenha um tratamento curativo, pode ver as suas consequências minimizadas.
A osteoartrose – vulgarmente referida simplesmente como artrose – é uma doença crónica, que afeta as articulações. Trata-se de um processo degenerativo das estruturas intra-articulares, particularmente da membrana sinovial que reveste as articulações. Produz-se em consequência da alteração da cartilagem: esta perde elasticidade, integridade e consistência, abandonando, em parte ou na totalidade, a função que desempenhava.
A artrose pode aparecer em qualquer articulação do organismo e afetar várias articulações simultaneamente. No entanto, as mais afetadas são as articulações dos dedos das mãos, os joelhos, as ancas, o dedo grande do pé e a coluna cervical.
PROGRESSÃO LENTA
Os sintomas surgem de forma gradual e a progressão é lenta. A dor costuma ser intensa e a zona afetada perde, por vezes, parte da sua capacidade de movimento. Isto dependerá, no entanto, da localização das articulações doentes. Embora a dor cesse com o repouso, recomeça ao mover-se a articulação ou quando se realiza algum esforço. Também os músculos que rodeiam a articulação costumam doer. Existem épocas do ano em que a pressão atmosférica, a temperatura ou a humidade do ambiente podem agravar os sintomas.
PRINCIPAIS VÍTIMAS
É a doença reumática mais frequente: todas as pessoas acima dos 55 anos são atingidas, em maior ou menor grau. A artrose é a causa mais comum de dores articulares. Mais de metade dos adultos com mais de 30 anos sofre um certo grau de artrose.
No entanto, a artrose é mais frequente e dolorosa na mulher. Nos países subdesenvolvidos, a frequência da artrose é menor, devido ao facto dos seus habitantes serem menos sedentários. Pelo contrário, nos países ocidentais, a artrose é responsável por 50% das consultas de Reumatologia, provocando um forte impacto económico e social.
Segundo os especialistas, o panorama da artrose em Portugal é pior do que na maioria dos países desenvolvidos: se, por um lado, é uma doença frequente, que provoca sofrimento e incapacidade, por outro, é pouco investigada e abordada, provavelmente porque é uma patologia que, não sendo fatal, é menos mediatizada do que outras doenças reumáticas.
FATORES DE RISCO
Não se conhecem exatamente as causas da artrose, embora se conheçam muitos dos mecanismos que a produzem. Os principais fatores de risco são o envelhecimento, a predisposição genética - principalmente nas mulheres - e a sobrecarga das articulações, derivada do excesso de peso - que dá origem às artroses nas costas, ancas e joelhos - ou de uma utilização excessiva. Também pode ser resultado de um traumatismo.
Todavia, a idade é o principal fator de risco associado, ou seja, quanto mais tempo um indivíduo viver, mais tempo vai estar exposto a outros fatores, nomeadamente às alterações nas articulações e ao excesso de peso articular.
COMO ALIVIAR A DOR?
Não existe, atualmente, um tratamento curativo da doença, embora se possam aliviar os sintomas, atrasar a sua evolução e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento varia de acordo com a articulação afetada. É importante conhecer o grau de dor, o grau de degeneração da cartilagem, o tipo de atividade executada pelo doente, etc, para corrigir, se possível, os fatores desencadeantes ou agravantes e proteger as articulações. É, igualmente, importante um diagnóstico precoce.
Entre as medidas mais recomendadas, destacam-se a redução do peso corporal, a prática de exercícios adequados, a terapia física e reabilitadora e o evitar de sobrecargas físicas. Os tratamentos de frio e calor costumam aliviar a dor e a sensação de rigidez articular, respetivamente. Nalguns casos, a cirurgia ortopédica pode constituir uma solução eficaz para esta incapacitante doença.
Os anti-inflamatórios e os analgésicos constituem um tratamento sintomático da doença, já que apenas aliviam a dor; no entanto, não a curam nem sequer a atrasam.
Os atuais esforços de investigação dirigem-se no sentido de melhorar o metabolismo da articulação, através do fornecimento de substâncias que impeçam a destruição da cartilagem ou, inclusivamente, promovam a regeneração dos tecidos. Deste modo, estão a ser desenvolvidos medicamentos capazes de regenerarem as cartilagens lesadas.
Para já, a maior esperança para estes doentes é constituída por medicamentos à base de sulfato de glucosamina e condroitina, isolados ou em associação, os quais demonstraram ser capazes de minimizar os sintomas e, simultaneamente, modificar a progressão do dano estrutural da cartilagem.
ARTRITES
INFLAMAÇÃO E DEFORMAÇÃO
A artrite não significa uma doença individualizada, mas representa um conjunto de doenças inflamatórias das articulações, com diferentes causas, sintomas e evoluções.
O tipo mais grave de doença inflamatória articular designa-se por ARTRITE REUMATOIDE. Trata-se de uma doença autoimune, na qual o sistema imunitário do organismo se vira contra si próprio, lesando as articulações e as partes moles que as rodeiam. Muitas articulações, especialmente das mãos, pés e braços, tornam-se extremamente dolorosas, rígidas e deformadas.
A ARTRITE SERONEGATIVA pertence a um grupo de doenças que provocam sinais e sintomas de artrite numa ou em várias articulações, embora as análises de sangue específicas da artrite reumatoide sejam negativas. Pode estar associada a doenças de pele, como a psoríase, doenças inflamatórias do aparelho digestivo, como a doença de Crohn, ou com doenças autoimunes.
A ARTRITE INFECCIOSA, também designada artrite piogénica, é uma doença causada pela invasão interior da articulação por bactérias provenientes de uma ferida infetada na vizinhança ou de uma bacteriemia, ou seja, a presença de bactérias na corrente sanguínea. A articulação infetada torna-se quente, dolorosa e tumefacta. As artrites infecciosas também podem ocorrer como complicação de uma infeção em qualquer parte do corpo, como varicela, rubéola, papeira ou febre reumática.
ESPONDILITE ANQUILOSANTE é a designação de um tipo de artrite da coluna vertebral, na qual as articulações que unem as vértebras se inflamam, permitindo que as estas acabem por se fundir. É típico o envolvimento das articulações sacroilíacas e das ancas.
A GOTA é outra doença associada com uma forma de artrite, na qual o ácido úrico se acumula nas articulações sob a forma de cristais, causando o processo inflamatório e afetando, geralmente, uma articulação de cada vez.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é obtido a partir dos sinais e sintomas que o doente apresente. Para descobrir a causa, pode aspirar-se líquido da articulação atingida. Este líquido é analisado, para se detetar a presença de microrganismos, cristais de ácido úrico ou outros cristais. Por vezes, faz-se uma cultura, a partir desse líquido, por forma a despistar qualquer infeção.
Também poderá ser realizado um exame radiológico, para revelar o tipo e grau de lesões da articulação. As análises de sangue podem revelar a presença de proteínas típicas da artrite reumatoide, uma taxa elevada de ácido úrico indicativa de gota ou, por vezes, uma alta velocidade de sedimentação, que indica uma inflamação.
TRATAMENTOS
Há tratamentos específicos para cada um dos diferentes tipos de artrite: por exemplo, antibióticos para a artrite infecciosa, anti-inflamatórios para a artrite reumatoide, etc. Com efeito, usam-se diversos medicamentos para tratar as diferentes formas de artrite, mas para obter a cura completa nenhum parece ser eficaz.
Durante uma crise grave de artrite, que atinja várias articulações, o repouso na cama, durante alguns dias, ajudará a diminuir a inflamação. Algumas articulações podem, inclusive, ser imobilizadas, para atenuar a dor. Tanto o calor como os exercícios supervisionados ajudam a reduzir ao mínimo a deformação articular. As pessoas obesas, com artrite nas articulações de descarga do peso do corpo, devem emagrecer.
As articulações atingidas que se tornaram extremamente dolorosas, instáveis ou deformadas poderão vir a necessitar de uma artroplastia, que é a substituição da articulação por uma prótese.
O que é uma articulação?
Uma articulação é uma estrutura que liga dois ou mais ossos e que está protegida ou estabilizada por diferentes elementos, como os músculos, os tendões e os ligamentos. Na articulação, os extremos ósseos estão revestidos por uma camada de cartilagem.
A cartilagem é um tecido que serve de almofada ou de amortecedor, protegendo os ossos dos choques que se produzem nos movimentos. A cartilagem permite realizar os movimentos articulares com suavidade e sem dor.
As articulações móveis estão encerradas, protegidas e estabilizadas pela chamada cápsula articular.
Ligada à cápsula, no interior, encontra-se a membrana sinovial, um fino revestimento em forma de saco ou bolsa, que rodeia a união dos ossos. A sua função, além de proteger, é segregar um líquido viscoso, que serve para lubrificar a articulação, facilitando o movimento entre os ossos, de modo a que este se faça com a mínima fricção.
Os ligamentos são potentes bandas fibrosas, que se estendem entre os dois ossos e que mantêm a estabilidade da articulação e dos músculos. Unem-se aos ossos, por meio de umas estruturas fibrosas, muito duras, denominadas tendões.
Artrite reumatoide: doença imprevisível
A artrite reumatoide é uma das doenças reumáticas mais imprevisíveis. A sua duração, agressividade e intensidade são difíceis de prever e a sua evolução é, por vezes, uma autêntica incógnita.
O especialista apenas pode tentar intervir na sua progressão, melhorando a qualidade de vida do doente, mas não é capaz de parar a evolução da patologia, que se manifesta por surtos, por vezes, muito agressivos. De qualquer modo, com um diagnóstico precoce e um tratamento adequado, o doente artrítico pode levar uma vida normal. Mas há que ter em conta que, em cerca de 10% dos afetados, embora possa controlar-se a dor, se a inflamação for severa e persistente, as articulações veem-se severamente afetadas, chegando a provocar uma grave invalidez.
Esta doença reumática é claramente feminina, porque afeta 3 a 4 mulheres por cada homem e, embora possa surgir em qualquer idade, o mais frequente é que apareça, pela primeira vez, entre os 30 e os 60 anos.
OPÇÕES TERAPÊUTICAS
As opções terapêuticas incluem os anti-inflamatórios não-esteroides, para aliviar a dor e a rigidez articulares. Os imunossupressores, por sua vez, podem ser usados para deter ou atrasar a progressão da doença.
A fisioterapia e a terapia ocupação também constituem medidas importantes. A primeira contribui para o alívio das dores e a redução das dificuldades de mobilização, ajudando os doentes a recuperarem o uso das articulações e músculos atingidos. A terapia ocupacional elucida os doentes sobre a melhor forma de desempenharem as suas tarefas quotidianas.
No caso de uma articulação gravemente danificada, as próteses podem ser a única solução.
Muitos doentes têm de tomar medicamentos para o resto da vida, mas o controlo efetivo dos sintomas permite, geralmente, um nível de atividade quase normal. Os métodos modernos de tratamento têm reduzido a frequência e a gravidade tanto das deformações como da incapacidade.
Vida saudável
Há regras de saúde essenciais. Alimentação equilibrada, exercício físico adequado, boa postura corporal e determinação em tratar-se são regras que se aplicam a todos.
Não há saúde musculoesquelética sem um peso equilibrado. Daí a importância de evitar o excesso de peso, sempre prejudicial para a saúde das articulações. Também é preciso estar atento à postura corporal, em casa, no emprego, na rua e até na cama. Devemos aprender a escolher sapatos que protejam os pés das deformações, colchões que não prejudiquem a coluna, móveis e utensílios desenhados ergonomicamente. O desporto deve ser adequado a cada situação e sempre sob orientação de profissionais especializados. Todo o esforço exagerado pode levar a lesões e ser mais prejudicial do que benéfico. O equilíbrio é a palavra-chave de uma vida saudável.
Dores e rigidez articular são os principais sintomas da osteoartrose, doença que, embora não tenha um tratamento curativo, pode ver as suas consequências minimizadas
A artrite não significa uma doença individualizada, mas representa um conjunto de doenças inflamatórias das articulações, com diferentes causas, sintomas e evoluções
Não há saúde musculoesquelética sem um peso equilibrado; daí a importância de evitar o excesso de peso, sempre prejudicial para a saúde das articulações